segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Sobre Leitura Dramática para Marta Metzler

A leitura dramatizada não aponta necessariamente para um projeto de encenação e não equivale a uma primeira leitura de texto a ser encenado, não é uma preparação, pois pressupõe-se que a própria apresentação é uma finalização (embora muitas leituras, especialmente as de textos contemporâneos, tenham desencadeado o respectivo processo de montagem). Há ainda a presença concreta do texto nas mãos dos atores e as conseqüentes falhas de dicção, que ocorrem tanto pela necessidade de se ler no mesmo instante em que se fala quanto pela pouca familiaridade com o texto e, no caso de dramaturgia antiga, pela própria dificuldade de falar termos fora do uso corrente. Esses fatores interrompem o fluxo da representação, gerando um certo distanciamento da audiência, distanciamento esse que é tacitamente desmanchado pela própria audiência, que, de certa forma, já o espera e o aceita cordialmente. O espectador opera entradas e saídas daquele universo dramatúrgico, num gesto que o faz sentir-se próximo e mesmo cúmplice dos atores. A vivificação e a vivência de um texto em uma leitura dramatizada não são reduzidas em potência, nem do ponto de vista dos seus artistas nem do seu público. Ao contrário, todos os seus elementos – o texto, a interpretação dos atores e as opções da direção – proporcionam, quando bem realizados, diversão, conhecimento e emoção, o que vem caracterizar a leitura dramatizada como objeto de fruição. Objeto cuja forma e cuja linguagem se estabelecem, pois, autonomamente em relação a outras formas teatrais 

METZLER, Marta. Leitura dramatizada: objeto de fruição – Instrumento de estudo Congresso Brasileiro de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas (4 : 2006 : Rio de Janeiro) Anais / do IV Congresso Brasileiro de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas ; organização Maria de Lourdes Rabetti. - Rio de Janeiro: Letras, 2006, p. 231-2.

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