Seguindo
a programação, os bolsistas, juntamente com a coordenadora do Proler Teatral,
Valéria de Oliveira, prestigiaram no dia 20 de abril a abertura solene do 4º
Festival de Teatro de Balneário Piçarras e assistiram aos vários espetáculos
apresentados na praça da Igreja Matriz Nossa Senhora da Paz e no Centro
Cultural Luiz Telles durante os sete dias de evento.
Pela
ótima estrutura oferecida, a parceria com lojistas, a coerente responsabilidade
organizativa, divulgativa, receptiva e o considerável numero de pessoas
presentes durante as apresentações, o povo piçarrense fez reviver a cultura do
teatro e sua importância há muito esquecida em seu balneário por seus
governantes. O evento, gratuito, encerrou com sucesso suas atividades no dia 26
de abril às 19h, no Centro Cultural, com o imperdível e engraçadíssimo
espetáculo Clov's O Internacionável da Cia Teatro Lá nos Fundos de Criciúma.
Além
dos espetáculos artístico-teatrais, o evento também ofereceu à comunidade a
oficina Direção de Cena com o ator e diretor Guilherme Peixoto, fundador da Cia
Mutuá...
...e
as rodas de debate (extremamente importantes para a contínua formação do ator!)
com os artistas sobre os seus espetáculos, orientadas pelos curadores e debatedores Jucca Rodrigues e Silvestre
Ferreira e sob a coordenação da diretora de arte da Fundação Municipal
de Cultura de Balneário Piçarras, Luciellen dos Santos.
Figurinhas carimbadas como Laércio Amaral, Jô Fornari e Sandra
Knoll, que atuam fortemente com Teatro Lambe-lambe e os atores e diretores
Marcelo F. de Souza, com seu rascante espetáculo Hangëbeck Ltda, e Daniel
Olivetto, marcaram presença no evento. Além destas também estava na cena local
o trio florianopolitano Gabriela Leite, Juliana Riechel e Thaís Carli com a
peça teatral Chá Preto, a Cia Carona de Blumenau com a apresentação Das Águas,
o Grupo Porto Cênico e sua Bolsa Amarela com as atrizes Aline Barth e Caroline
Carvalho, o aguardado Esse Corpo Meu com a esplendorosa atuação de Denise da
Luz e Max Reinert, As Flores do Mal do grupo de adolescentes piçarrenses Escola
Mágica e outros mais do cenário catarinense bem como algumas autoridades
políticas da cidade.
A proximidade com o fazer teatral, com as linguagens e as figuras
artístico-teatrais, com a estrutura de palco, as iluminações, os elementos de
cenário, de figurino e a pós-imagem humana, despida da fantasia encenada, nua e
crua do que é, desmaquiada do espetáculo, impõe aos iniciantes ou aspirantes
deste (ou a este) contexto repensar o sentido da imagem, da personagem
descaracterizada, do ator despersonalizado, de si mesmo. “Quem é quem? O que é
o que é?” – como se se abrisse outro horizonte diante dos próprios olhos e o
pensamento se achasse em realidade outra, de não-se-sabe-bem-o-que, se
aventurando, se (re)descobrindo... No teatro aprendemos expressões, falas,
tons, gestos, olhares, faz-de-conta e não-faz-de-conta. É um lugar de
interrogações explícitas e desopressão escancarada, é um lugar “de se perder e
de se achar”, de se ver ou de deixar de existir, sem culpa ou medo ou
demasiadamente culpado e demasiadamente aterrorizado – vai depender. O teatro,
e a sua importância de fato, imprimem no ser que o assiste e que o vive um
enorme mistério, uma imensa luz complexa e real, sobre coisas reais recheadas
de quimeras quem sabe reais. O ator jamais é o personagem, mas todo personagem
carrega inseparavelmente dentro em si um pouco do ator que se evidencia nos
textos, nos gestos, nos olhares, nos palcos, diante da platéia faminta. O fazer
teatral nos (im)põe frente à frente com nós mesmos, mas não nos esclarece, ao
contrário, a luz que dele emana ofusca o entendimento para aguçar uma percepção
mais elevada do que a que meramente supomos conhecer e portanto nos arrasta
misteriosamente à um confronto interior constante e irreversível: é na relação
com o outro que se dá o encontro diário com a Arte.
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